segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A criatividade esquecida de Antheil


(Imagens: George Antheil / Ezra Pound com George Antheil)
Pergunto-me muitas vezes porque é que o génio artístico de George Antheil (pronuncia-se "antil") não é reconhecido ou nem sequer surge, muitas das vezes, referenciado nos dicionários musicais como merecia.
George Antheil (1900 - 1959) foi um músico à frente do seu tempo. Nascido nos EUA, New Jersey, aprendeu muito cedo a tocar piano. Um dia teve um ímpeto expansionista e deixou os EUA com uns imberbes 22 anos, mudando-se para a Europa (Paris, Berlim, Viena...) onde conheceu Stravinsky, uma das suas principais referências. Começou a dar concertos de piano que ficaram famosos pela total inovação técnica de abordar o teclado: de forma percussiva e violenta, gerando amálgamas sonoras abruptas e harmonicamente dissonantes. Numa época em que ainda se respirava a música melódica dos impressionistas (Debussy, Ravel...), George Antheil quebrou regras e violentou os ouvidos mais sensíveis, de tal forma que alguns concertos acabavam em verdadeiros motins.
Vanguardista e revolucionário foram os primeiros epítetos atribuídos a Antheil.
Estávamos nos gloriosos e ricos anos 20 do século XX e o próprio pianista auto-proclamava-se, apropriadamente, "Bad Boy of Music". A sua irreverente visão criativa da música levou-o a experimentar inusitadas combinações de instrumentos que nunca tinham sido tentadas, inventar instrumentos (como os futuristas italianos) e a utilização, como fez também Edgar Varèse, de sons e ruídos urbanos - sirenes, buzinas, ruídos industriais, etc.
Com um espírito ávido de novas experiências artísticas e novos conhecimentos, foi amigo de artistas ilustres: James Joyce, Ezra Pound, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dali, Ernest Hemingway, Erik Satie, Igor Stravinsky, Fernand Léger... Ou seja, alguma da nata artística daqueles anos.
Uma das suas obras musicais mais conhecidas e celebradas é a música que compôs para o filme dadaísta "Ballet Mécanique" de 1924, realizado pelo pintor e cineasta Fernand Léger. "Ballet Mécanique" é um marco insuperável do cinema de vanguarda dos anos 20, uma proposta visual abstracta, usando técnicas mistas - fotografia, colagens de imagens, animação, imagem real, ângulos de câmara e montagem ritmada. A música de George Antheil é um portento de erupção rítmica e combinações tímbricas, numa massa sonora agreste e imprevisível (aqui se nota onde o pianista de free-jazz Cecil Taylor foi buscar inspiração) - um "ballet mecânico" com objectos e formas) como se poder ver e ouvir aqui:

Mais tarde, George Antheil regressa à América natal e envereda por uma carreira de compositor de bandas sonoras para filmes de Hollywood. Com o passar dos anos, a música de Antheil foi evoluindo para um estágio estético mais convencional, quase próximo no neo-clacissismo, deixando para trás os anos de rebeldia e ousadia formal.
Agora chamo a especial atenção para o que se segue: a recriação da peça musical "Ballet Mécanique" de George Antheil recriada por uma orquestra de instrumentos... robots. Trata-se do projecto norte-americano LEMUR - League of Electronic Musical Urban Robots . A apresentação deste concerto aconteceu na Nation Gallery of Art, Washington, em 2006. São 16 pianos a tocar simultaneamente com uma parafernália imensa de percussão e objectos sonoros pré-controlados.

Deveras impressionante.

Sem comentários: