quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A cultura é desenvolvimento?

Quando pensávamos que os políticos já não conseguiam inventar nada ou ser especialmente criativos nas ideias e nas intenções, afinal ainda vamos sendo surpreendidos de vez em quando - e não me refiro à possibilidade de Manuel Alegre criar um novo partido de esquerda. Falo da secretária de Estado da Cultura, Paula Fernandes dos Santos. A senhora disse ontem em Aveiro que "o parque de infra-estruturas culturais mudou substancialmente" (grande novidade). E por causa disto, vai sendo necessário "pensar na Cultura como factor de desenvolvimento" (inovação total). Referiu ainda que o Programa Operacional da Cultura investiu 400 milhões de Euros para "dotar o país de infra-estruturas susceptíveis de dinamizar as comunidades locais". Por conseguinte, Paula Fernandes dos Santos, salientou a ideia que "pensar na cultura não é só no lado contemplativo, mas também como factor de desenvolvimento" (tirada filosófica do ano?)
É verdade que o Governo lançou o Programa Operacional da Cultura para dotar o país de melhores estruturas culturais (cine-teatros, teatros municipais e recuperação de outros equipamentos culturais degradados). Mas vir dizer agora, e só agora, que por causa disso é preciso pensar na cultura como factor de desenvolvimento, quase dá vontade de rir. Parece uma afirmação proferida como se fosse a descoberta da pólvora. De facto, quem alguma vez pensou, antes desta senhora Secretária de Estado, na cultura como instrumento de desenvolvimento? Pelo menos desde a antiga Grécia até agora, mais ninguém.
Para além do mais, com esta última frase, Paula Fernanda dos Santos acaba por atestar que o Ministério da Cultura nunca teve (ou não tem) uma política cultural com objectivos próprios focalizados nesse tal desenvolvimento. O que tinha apenas era uma política de apoios financeiros para construir equipamentos e, claro, conceitos teóricos e noções contemplativas sobre cultura. Visão estratégica de desenvolvimento cultural para o país a partir de uma política concertada de apoio a nível nacional, isso parece que os políticos nunca tinham pensado. Bem, até agora, pelos vistos. Esperemos que daqui a um ano, na véspera das eleições, não venha a senhora Secretária de Estado da Cultura dizer que a cultura também precisa de dinheiro para os teatros e centros culturais deste país poderem fazer coisas como programação cultural de qualidade. Isso era o cúmulo da ousadia e do risco. Os teatros nacionais que se governem sozinhos, ora.
A cultura como factor de desenvolvimento? Humm...

1 comentário:

Anónimo disse...

Parece que acordaram agora e repararam que a cultura pode dar jeito. Enfim.