domingo, 16 de novembro de 2008

Günter Grass - artista plástico


Günter Grass é um dos mais prestigiados escritores alemães do pós-guerra e foi catapultado para a ribalta literária com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 1999, um ano depois de José Saramago ter sido agraciado com o mesmo galardão das letras. Para além da literatura e da sua actividade como intelectual (não sem polémicas!), Günter Grass teve formação, na década de 50, em artes plásticas (escultura), frequentando a Academia de Artes de Berlim durante dois anos. Essa formação serviu-lhe para explorar uma veia muito própria de expressão plástica, utilizando os mais diversos materiais e técnicas de pintura, gravura e desenho. Essa vertente de artista plástico do escritor é menos conhecida e mediática, mas nem por isso menos interessante no âmbito da sua carreira de mais de cinco décadas. Os seus desenhos, aguarelas, gravuras e esculturas foram apresentados em numerosas exposições na Alemanha e muitos outros países nos últimos 50 anos e a sua obra está representada em importantes museus e colecções privadas. Ainda assim, quando se fala em Günter Grass, é quase sempre a sua produção literária que vem à baila...
Até dia 4 de Janeiro próximo há uma oportunidade de conhecer uma boa parte da obra plástica do escritor alemão. A exposição "Günter Grass: O Artista Plástico" (com a colaboração do Centro Cultural São Lourenço) está patente desde ontem na Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guarda. A exposição mostra dezenas de esculturas em bronze, desenhos e pinturas das mais variadas técnicas e materiais, motivos, cores, texturas, abordagens. Algumas das obras fazem referência directa aos romances de Grass, como personagens e determinados temas. Alguns quadros parecem narrar verdadeiras histórias, relatar memórias vividas e experiências de outrora (as obras mais antigas da exposição remontam a 1953). Outros não pretendem (digo eu) revelar mais do que o objecto ou a matéria exposta, não sem um toque de absurdo e humor, mas sempre com refinamento estético. A natureza e os animais são matéria recorrente do seu imaginário, e vêmo-los espalhados nos seus quadros: sapos, galinhas, ratos, peixes, lagostins. Mas também cogumelos, castanhas, cebolas, árvores e folhas. Ou homens. Homens pintados como se fossem manchas quase indistintas, como espiões de si próprios, sem individualidade.
Comprova-se que Günter Grass demonstra uma grande sensibilidade plástica e visual, com traço simples e um subtil domínio cromático. "Günter Grass; O Artista Plástico" - uma oportunidade rara de poder apreciar a veia artística de um escritor laureado com o Nobel que, por acaso, também é um digníssimo artista plástico.


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