quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Just Girls - são só raparigas


Será possível que os técnicos de marketing e de produção musical raramente tenham um fracasso? Foram os Excesso, os D'arrasar, os Sétimo Céu, os 4 Taste, os D'Zrt e agora as Just Girls. Todos estes grupos (grupos?) musicais encaixam na denominação de boys band (ou girls band, conforme o caso). Os produtores (com a NZ Produções à cabeça) sabem que são grupos extremamente efémeros e associados a êxitos televisivos orientados para teenagers. Mas sabem que se o trabalho for bem feito, consegue render muito dinheiro para a produtora (para os músicos já não sei). Contratam-se consultores de imagem e conselheiros de moda, fazem-se castings para angariar os jovenzinhos ávidos de fama warholiana, contratam-se músicos profissionais de estúdio para as gravações (não só instrumentais mas também vocais) e depois monta-se uma campanha comercial e mediática muito bem montada e com objectivos definidos. O produto quase sempre vende muito e bem, veja-se o êxito estrondoso dos Excesso (já lá vão dez anos), dos recém finados D'Zrt ou da banda do momento, as Just Girls (na imagem), saídas, como não podia deixar de ser, da série "Morangos com Açúcar - Geração Rebelde (!)". Este último grupo, li agora no Público, lidera há longas semanas o 1º lugar do top nacional de vendas de álbuns (60 mil discos vendidos), à frente de Mariza ou de Sérgio Godinho. Seria interessante analisar sociologicamente como se geram e desenvolvem estes fenómenos de moda passageiros, direccionados a um público que, as mais das vezes (faixa etária dos 10 aos 16 anos), ainda não tem maturidade intelectual suficiente para discernir entre os objectos estéticos de qualidade dos medíocres. São produtos formatados, moldados segundo o gosto massificado dos adolescentes, pop fácil e directa - quase sempre plagiada de êxitos oriundos de países estrangeiros. Banalidades atrás de banalidades sem fôlego artístico algum, concebidos unicamente para gerar receitas comerciais. Dir-me-ão os críticos desta posição: há toda a legitimidade para que os jovens consumam esta música, se é a que eles gostam, se é a que passa na rádio e na televisão. Resignamo-nos a alimentar o círculo vicioso? Claro, também há toda a legitimidade para que os jovens gostem mais do cinema "pop corn" Hollywoodesco do que cinema de autor, ou de literatura "light" em vez de literatura clássica. Depois não nos queixemos é dos índices de formação cultural dos jovens portugueses.

1 comentário:

Maria del Sol disse...

Não tenho nada a acrescentar porque penso que as reflexões mais relevantes já estão no próprio texto, mas não podia estar mais de acordo com esta análise. Continuamos a tapar o sol com a peneira (e uso o plural porque é um problema que nos afecta enquanto membros da mesma sociedade dos adolescentes que consomem os produtos "light").