quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Edmond - o pecado de existir


O que acontece quando uma cartomante nos diz: "você não pertence a esta vida." O protagonista deste filme, um vulgar homem de negócios com uma vida entediante, de seu nome Edmond, dá uma resposta possível: chega a casa, diz à mulher que vai sair para não mais voltar. E assim faz. Começa a deambular pelas ruas de Nova Iorque, cheias de tentações e perigos ao virar da esquina. Edmond empreende uma viagem existencial à procura de um sentido de libertação espiritual, à procura de sensações de energia e adrenalina que o façam sentir... vivo. Sexo, crime, violência, desespero, descontrolo emocional - um calvário terreno até à expiação dos pecados finais. Ecoam por esta película uma simbiose de laivos de "Fight Club" ou de "Eyes Wide Shut". É como se Edmond se culpasse por viver uma vida vazia, absorta, ausente. Edmond é interpretado pelo excelente actor William H. Macy. Aliás, todo o filme é suportado pela performance de Macy.
"Edmond" é um filme que passou completamente ao lado do panorama cinematográfico de Portugal (nem teve estreia nacional), mas agora que chegou aos videoclubes e se encontra à venda em DVD, vale a pena conhecê-lo. Fez furor quando, há dois anos, passou pelo festival de Sundance. O realizador Stuart Gordon - conhecido sobretudo pelo truculento filme de terror gore "Re-Animator" (1985) -, faz par com o notável argumentista e realizador David Mamet. Mamet sabe como ninguém contar uma história, e uma história quase sempre com contornos que desafiam a lógica narrativa habitual, com elementos assaz surrealistas e muito bem engendrados. Nota-se a cada passo que a escrita é de Mamet, nos diálogos, nas situações narrativas criadas, no subtil humor, nas personagens no limite do abismo, nas piscadelas de olho ao espectador. Veja-se este diálogo:
Glenna: You know who I hate?
Edmond: No, who is that?
Glenna: Faggots.
Edmond: Yes, I hate them too. Do you know why?
Glenna: Why?
Edmond: They suck cock. And that's the truest thing you will ever hear.

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