terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A revolução do ruído


É um álbum maldito da história do rock (e se formos rigorosos, de toda a história da música). Lou Reed, uns anos após o fim dos Velvet Underground, em 1975, grava essa infâmia e embuste (para uns) ou obra genial e premonitória (para outros tantos): "Metal Machine Music". Num aspecto todos estão de acordo: trata-se de um registo radical, concebido e gravado sem concessões, feito à base de feedback de guitarra e de manipulação de ruído branco. Reed diz que gravou o disco completamente pedrado. Acreditamos. Já foi considerado o pior álbum de rock de sempre; e já foi incluído na lista dos discos mais inovadores de sempre. Em que ficamos?
Na verdade, o disco vale sobretudo como testemunho conceptual, mais do que estritamente musical. Deve tanto ao rock de guitarras dos Velvet como aos princípios estéticos e teóricos de La Monte Young, de John Cage ou dos concretistas Pierre Schaeffer e Pierre Henry. Deve também à teoria dos "intonarumori", as célebres máquinas de produzir ruído industrial do futurista italiano Luigi Russolo. E é um disco que influenciou artista tão diversos como Sonic youth, Throbbing Gristle, Merzbow e todos os subgéneros do noise, do industrial e do electro-acústico. Ouvi-lo não será o mesmo que ouvir Robert Wyatt ao entardecer enquanto se bebe um martini (que raio de associação!). Ao longo destes 30 e tal anos, não acredito que alguém, alguma vez, tenha ouvido "Metal Machine Music" do princípio ao fim sem ter tido lesões cerebrais irreversíveis. Mas quem sabe, tratar-se-ia de uma experiência limite no teste à capacidade auditiva humana. Não eram os Einstürzende Neubeutan que diziam que "é preciso ouvir com dor"?

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