terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O nosso inconsolável consolo


"Por vezes, à beira-mar, no perpétuo movimento das águas e no eterno fugir do vento, sinto o desafio que a eternidade me lança. Pergunto-me então o que vem a ser o tempo, e descubro que não passa do consolo que nos resta por não durarmos sempre. Noites há, em que, sentado à lareira, no quarto mais resguardado de todos, sinto subitamente a morte cercar-me: no fogo, nos objectos ponteagudos que me rodeiam, no peso do tecto e na massa das paredes; na água, na neve, no calor, no meu sangue. Pergunto-me então o que vem a ser a nossa mais humana sensação de segurança, e percebo que não passa de um consolo para o facto de a morte ser o que há mais próximo à vida. Pobre consolo, que não cessa de nos recordar o que desejaria fazer-nos esquecer! Decido encher todas as minhas páginas em branco com as mais belas combinações de palavras que seja capaz de engendrar. E depois, porque quero assegurar-me que a vida não é absurda e não me encontro só sobre a terra, reúno-as todas num livro e ofereço-o ao mundo. Este, retribui-me com a riqueza, a glória e o silêncio. Mas não sei que fazer com este dinheiro, nem que prazer tirar de contribuir para o progresso da literatura, pois só desejo o que jamais obterei- a certeza de que as minhas palavras tocaram o coração do mundo. É então que me pergunto o que vem a ser o meu talento, e descubro que não passa de uma forma de me consolar da solidão. Risível consolo - que apenas torna cinco vezes mais pesada a solidão."
Stig Dagerman - " A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer"

1 comentário:

Anónimo disse...

Allo,

gosto bastante deste blog. Parabéns!

Lúcia Nunes