domingo, 23 de dezembro de 2007

A escola castradora


A última edição do semanário Expresso traz uma entrevista interessante com o compositor polaco Zbigniew Preisner (que acaba de editar um disco a meias com a cantora Teresa Salgueiro), conhecido pelas bandas sonoras que compôs para os filmes de Krystof Kieslowski (e também Wong Kar Wai ou Louis Malle). O seu estilo musical é facilmente reconhecível: composições orquestrais à mistura com elementos electrónicos ambientais e melodias instrumentais melancólicas. Ora, na referida entrevista, a dada altura e a propósito do auto-didactismo do músico, o jornalista pergunta: “acha que a escola pode ser um espartilho para o desenvolvimento da criatividade?”. Resposta: “Frequentemente sim, quando um aluno quer raciocinar pela própria cabeça e desenvolver autonomamente as suas ideias e o seu trabalho. Quando alguém quer fazer alguma coisa diferente, se tem espírito aberto para o exterior e para outras experiências, a escola prefere afirmar que isso não tem qualidade, ou que não se devem abrir excepções.”
Essa é uma velha questão, a de saber até que ponto a escola formata demais a cabeça dos alunos e impede a liberdade de pensar e de agir contra os fundamentos dogmáticos do ensino tradicional. Acabo por concordar com Preisner, uma vez que senti isso mesmo quando frequentava o curso superior de música: o sistema de ensino era demasiado rígido e afunilado num só sentido. Era um ensino vocacionado para o uniformidade incondicional de ideias e de conhecimentos. Basta dizer que a disciplina de História da Música parava no período da primeira Guerra Mundial (Debussy, Schoenberg, Ravel...). O estudante que quisesse conhecer a música criativa que se fez até aos nossos dias, teria de pesquisar por ele próprio. E falar aos professores de John Cage, Varèse, Stockhausen, Steve Reich ou... Velvet Underground, era quase uma heresia. Uma afronta intelectual.
E alguma vez pensaram porque é que os conservatórios de música se chamam conservatórios?

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