domingo, 23 de dezembro de 2007

Como o gosto musical nos define


Deu-se a coincidência de ler no mesmo dia as revistas BLITZ e Super Interessante. E eis que ambas trazem reportagens sobre um tema que já se discute há muitos anos e que ultimamente tem sido alvo de séria investigação científica e académica: a relação entre a personalidade e os gostos musicais. Isto é, a neurociência e a psicologia comportamental têm revelado que as preferências musicais definem os traços de personalidade de cada um. Investigadores da Universidade do Texas (com coordenação do psicólogo Sam Goslin) e o psicólogo português Nuno Consciência, coincidem neste ponto: que a preferência por um determinado estilo musical - do rock ao blues, da clássica ao house, do jazz ao hip-hop – define o perfil de personalidade, tese comprovada através de experiências e testes realizados laboratoriamente. Os sons alteram a química do cérebro e despoletam descargas de substâncias neurotransmissoras, como a dopamina ou a serotonina. A música altera, de igual modo, o nosso estado de ânimo consoante a circunstância existencial e é um tónico para a alma. Existe um conjunto de vivências que nos direcciona para a fruição de um determinado género musical, com o intuito de libertar emoções provenientes dessas vivências. A música que ouvimos é, em última análise, um reflexo de nós próprios. Um jogo de espelhos, portanto.
Nuno Consciência vai mais longe e escalpeliza a relação entre psicanálise, música e criatividade. Logo, é natural que a música seja dos fenómenos actuais que mais contribui para a tribalização de um grupo, para a consolidação da sua identidade cultural e social. É a música que une os jovens e adultos que gostam de hip-hop, de heavy metal, de música vanguardista, de ópera, de rock. Secundariamente à uniformização do gosto musical, esses grupos geram à sua volta outros elementos identitários: a roupa, as atitudes, os códigos sociais, etc. A música é, seguramente, a linguagem cultural que mais contribui para agregar socialmente os indivíduos em grupo.
Segundo o estudo da revista Super interessante, foram detectadas as seguintes relações:
Hip-hop – tipo de personalidade: extrovertidos, enérgicos, solteiros, elevada auto-estima.
Rock – tipo de personalidade: activos, aventureiros e ateus.
Jazz/Blues – tipo de personalidade: inteligentes, criatios, liberais e tolerantes.
Ópera/Clássica – tipo de personalidade: casados, cultos, altos rendimentos, perigosos ao volante (!).
A minha dúvida é: e quem gosta, nem que seja um bocadinho e simultaneamente, de todos estes géneros musicais, qual será o seu perfil de personalidade? Arrisco que nem Freud seria capaz de traçar esse perfil...

Sem comentários: